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Blended finance: alavanca para a sustentabilidade e motor de novos negócios

Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) calcula que o blended finance pode movimentar até US$ 4 trilhões por ano na economia global, caso os mecanismos sejam utilizados em escala

 (Urbanscape/Getty Images)

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Danilo Maeda
Danilo Maeda

Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 28 de agosto de 2025 às 07h00.

O conceito de blended finance tem ganhado força nos últimos anos como uma das ferramentas mais promissoras para viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono e, ao mesmo tempo, abrir novas fronteiras de negócios conectados ao desenvolvimento sustentável. Na prática, trata-se de um arranjo financeiro que combina recursos públicos, filantrópicos e privados para reduzir riscos, atrair capital e alavancar investimentos em áreas que, isoladamente, não conseguiriam acessar o volume necessário de financiamento. O mecanismo, ao equilibrar diferentes perfis de risco e retorno, funciona como uma ponte entre a necessidade urgente de soluções regenerativas e a lógica de mercado que busca segurança e rentabilidade.

O impacto potencial dessa abordagem vai muito além de preencher lacunas financeiras. Quando governos ou instituições multilaterais assumem parte do risco inicial, tornam viáveis projetos que, de outra forma, ficariam restritos ao campo das boas intenções ou da pesquisa acadêmica. Pensemos em tecnologias ainda emergentes, como captura de carbono em larga escala, novos biocombustíveis ou infraestrutura resiliente a eventos climáticos extremos: todas enfrentam custos elevados de desenvolvimento e incertezas quanto ao retorno. O blended finance cria condições para que investidores privados entrem em cena, diluindo riscos e transformando apostas arriscadas em oportunidades mais tangíveis.

Não por acaso, estimativas recentes dão a medida desse potencial. Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) calcula que o blended finance pode movimentar até US$ 4 trilhões por ano na economia global, caso os mecanismos sejam utilizados em escala. Para efeito de comparação, trata-se de um montante capaz de redefinir não apenas o alcance do financiamento climático, mas também o papel dos bancos e instituições financeiras na arquitetura da sustentabilidade. Se parte relevante desse capital for direcionada a projetos de transição energética, adaptação climática e inclusão social, estaríamos diante de uma mudança estrutural na lógica do investimento global.

Mas o mecanismo não se limita a viabilizar o “necessário”. Ele também abre espaço para a captura de oportunidades de negócios em setores estratégicos para o futuro. A demanda por energia limpa, agricultura regenerativa, transporte de baixo carbono, economia circular e serviços financeiros inclusivos é crescente e tende a se intensificar nas próximas décadas. Ao estimular fluxos financeiros para essas áreas, o blended finance não apenas acelera a transição como também reposiciona empresas e países que souberem aproveitar a dinâmica. É um caso típico de interseção entre propósito e competitividade: os que entrarem cedo terão vantagens não só reputacionais, mas também econômicas.

Ainda assim, o entusiasmo deve vir acompanhado de cautela e rigor. Nem todo arranjo de blended finance resulta em impacto transformador; há o risco de que recursos públicos acabem subsidiando negócios que já seriam viáveis sem incentivos adicionais, ou que o modelo seja capturado por estratégias de marketing corporativo descoladas de resultados reais. Para evitar esse desvio, é preciso clareza na definição dos objetivos, métricas robustas de impacto socioambiental e governança transparente na gestão dos fundos.

Em síntese, o blended finance carrega o potencial de ser uma das engrenagens centrais do financiamento sustentável. Ao mesmo tempo em que garante a viabilidade econômica de soluções urgentes para a humanidade, amplia o leque de oportunidades de negócios num cenário em que sustentabilidade deixou de ser nicho para se tornar a lógica dominante. Mais do que apenas mobilizar capital, trata-se de redefinir a maneira como o mercado percebe risco e retorno, incorporando a variável socioambiental como parte estrutural da equação.

Esse movimento não é apenas desejável; é inevitável. A questão central passa a ser como garantir que os mecanismos de blended finance sejam utilizados com integridade, escala e ambição suficientes para transformar intenções em realidades — e não apenas abrir atalhos de curto prazo. Afinal, diante da crise climática e das desigualdades crescentes, a convergência entre capital e impacto deixou de ser uma escolha estratégica e se tornou um imperativo ético e econômico.

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