Sisu: sistema usa as notas do Enem para selecionar alunos para universidades públicas (Agência Brasil)
Redação Exame
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 15h06.
O Ministério da Educação (MEC) decidiu fazer uma mudança no processo seletivo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu): na edição de 2026, os candidatos vão poder utilizar o resultado das três últimas edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
De acordo com o MEC, os candidatos vão poder usar como referência a nota da edição que resultar na melhor média ponderada para o curso selecionado, desde que o participante não tenha sido treineiro.
Nesta edição do Enem, que acontece nos dois próximos domingos, 9 e 16 de novembro, vão concorrer 4,8 milhões de alunos, sendo 1,8 milhão matriculados no terceiro ano do ensino médio.
A mudança preocupou os candidatos que estão prestando o exame pela primeira vez neste ano. Na visão desse grupo, a nova regra tende a acirrar a disputa por vagas em cursos mais concorridos e daria vantagem a quem já fez a prova em outras edições. No Sisu 2026, serão aceitos os resultados obtidos no Enem 2023, 2024 e 2025.
Um abaixo-assinado no site Change.org e já conta com mais de 27 mil assinaturas contra a medida. "Ao permitir o uso das notas dos três últimos anos, estaremos abrindo espaço para que aqueles com mais recursos tenham maior vantagem, seja pela possibilidade de cursos preparatórios repetidos, seja pela simples oportunidade de tentar inúmeras vezes até conseguir a nota desejada", diz o texto de Ana Amelia Lima, criadora da petição.
Em entrevista ao Globo, o estatístico Frederico Torres disse que cursos de baixa concorrência não devem ser afetados, mas os mais visados, como Medicina, devem ficar mais concorridos.
Outra preocupação dos estudantes é sobre a possibilidade de comparar notas de provas diferentes. Segundo o estatístico, o modelo de correção do Enem, a teoria de respostas ao item (TRI), permite que provas distintas sejam comparadas.
"Mas tenho minhas ressalvas sobre a possibilidade de essa comparação poder ser feita todo ano. Em 2021, o resultado foi muito diferente dos últimos cinco anos, por exemplo", disse Torres.
Para o MEC, a mudança no uso de notas antigas é uma forma de aumentar as chances de preenchimento das vagas ofertadas. Em 2024, o Sisu ofereceu 264 mil vagas. Desse total, 23 mil não tiveram concorrentes na primeira seleção; 40% são Licenciaturas. Torres avalia que, com mais candidatos, há menos chance de que o fenômeno se repita.
Especialistas em educação, no entanto, temem que a medida resulte em aumento de evasão nas universidades públicas. Uma pesquisa da economista Andréa Cabello, professora do Departamento de Economia da UnB, mostra que metade dos ingressantes pelo Sisu evade do ensino superior; enquanto a taxa de evasão de alunos que entraram por outros mecanismos é de até 20 pontos percentuais menor.
Para Cabello, isso acontece porque os mecanismos do Sisu favorecem uma decisão menos pensada. "Um menino que gostaria de fazer Medicina na UnB pode ser classificado em Fisioterapia na federal do Acre. Só depois que ele vai entender que não consegue fazer essa mudança ou não tem o desejo de fazer aquele curso", disse ao Globo.
*Com informações de O Globo