Brasil

Rio será capital da tecnologia: a visão do futuro prefeito Cavaliere

Conhecida como o centro de energia limpa, cidade planeja atrair US$ 65 bilhões das big techs

Rio AI City: projeto é ambicioso a ponto de despertar dúvidas de especialistas (Bildagentur-online/Universal Images Group/Getty Images)

Rio AI City: projeto é ambicioso a ponto de despertar dúvidas de especialistas (Bildagentur-online/Universal Images Group/Getty Images)

Coriolano Gatto
Coriolano Gatto

Jornalista e colunista da EXAME

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 10h52.

Em maio de 2023, o presidente da OpenAI, Sam Altman, iniciou um tour mundial em busca de ampliar os horizontes da inteligência artificial (IA). A primeira cidade escolhida foi o Rio de Janeiro, onde o empreendedor americano, hoje com 40 anos, viu as oportunidades necessárias para a expansão do seu negócio. Altman, que abandonou a Universidade de Stanford (EUA) no segundo ano, costuma dizer que prefere “aprender fazendo”.

“O Rio já é a capital da energia com a sede da Eletrobras e agora quer ficar conhecida como uma verdadeira fábrica de inteligência”, afirma, de forma pausada, o vice-prefeito Eduardo Cavaliere, 31 anos, que em abril vai substituir o seu chefe Eduardo Paes, futuro candidato ao governo do RJ. Graduado em Direito pela FGV Rio, ele tem larga experiência em tecnologia — na China conheceu um parceiro que ajudou na criação da startup Gabriel, empresa de videomonitoramento que espalhou totens de vigilância por bairros de grandes cidades.

O projeto Rio AI City é ambicioso a ponto de despertar dúvidas de especialistas, mas se baseia em memorandos de entendimentos com o setor público e empresas privadas, que em oito anos investirão cerca de US$ 65 bilhões em datas centers, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e em supercomputadores da Nvidia, que serão instalados no chamado Porto Maravalley, Zona Portuária da cidade.

Nesse período, a capacidade de energia gerada será de 3,2 GW, um pouco mais do que os 3 GW, o consumo por hora de energia elétrica dos cariocas fornecida pela Light. O Rio tem a pretensão de ser um dos 10 polos de datas centers do mundo.

Das 40 cidades que são o alvo predileto das big techs, o Rio, diz Cavaliere, é a que oferece as melhores condições por sua localização perto dos centros consumidores. Por meio da Eletrobras, privatizada no governo anterior, será possível ter energia limpa para alimentar essa verdadeira indústria de IA, que atraiu o Google Labs, a Oracle, a Elea Data Centers — responsável pela construção dos chamados galpões tecnológicos —, a Amazon, além da Nvidia e outras que estariam a caminho, como a própria OpenAI.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Osmar Lima, sabe que o projeto só fica em pé em razão de o Brasil ter optado por um único grid no setor elétrico, escolha que permitiu a interligação de todo o sistema de energia com rapidez e eficiência, diferentemente, por exemplo, dos Estados Unidos, que têm cinco malhas, o que dificulta a eficiência da engrenagem.

A água também não é um problema para a instalação dos datas centers e dos supercomputadores, pois o sistema de resfriamento exige menor consumo, o que não põe em risco o abastecimento dos moradores, como ocorreu em cidades do Texas, que ficaram às escuras e sem água.

É evidente que há uma força-tarefa na área pública debruçada sobre esse projeto gigantesco, o que inclui o BNDES — responsável pelas garantias —, a Finep, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Ministério do Desenvolvimento, o Ministério de Minas e Energia, entre outros órgãos públicos.

“O que esperamos, já para a metade de 2026, é iniciar o empreendimento com a intenção de reter talentos na cidade do Rio. Por ano, formamos 1.300 profissionais na área tecnológica, o que, proporcionalmente, é maior do que em São Paulo, que forma 1.500 pessoas”, afirma Osmar Lima.

Cavaliere, que tem um bom domínio do mandarim, estima que a cada 100 MW serão criados 10 mil empregos de alta qualificação. Para isso, as universidades públicas (UFRJ, UFF, UERJ e Universidade Rural) se somarão à PUC-Rio e à FGV, que se prepara para lançar um programa de inovação e tecnologia. O tradicional IMPA (Instituto de Matemática Pura e Avançada) tem uma unidade no Porto Maravalley. O IMPATech planeja formar 100 alunos por ano em Matemática da Tecnologia e Inovação.

A cidade, frisa o futuro prefeito Cavaliere, não quer ser apenas um local para abrigar todo o maquinário que será utilizado pelas grandes empresas de tecnologia, quer também reter uma mão de obra que poderia ir para o exterior. O Vale do Silício e as cidades de Pequim e Shenzhen são sempre citadas como os grandes modelos.

Espera-se que o supercomputador da Nvidia seja capaz de processar 1 quadrilhão de cálculos por segundo. Não custa lembrar que o Rio tem cabos submarinos que conectam a cidade a todos os continentes — infraestrutura construída para a realização dos Jogos Olímpicos, em 2016 — e sedia a maior empresa do mundo em produção de energia limpa.

Resta saber se a cidade garantirá a segurança pública necessária para a atração de investimentos estrangeiros com a permanência de profissionais e executivos de todas as partes do mundo e uma infraestrutura eficiente com o mesmo padrão da China e dos EUA.

*Coriolano Gatto é jornalista e colunista da EXAME

Acompanhe tudo sobre:Rio de JaneiroInteligência artificial

Mais de Brasil

Instrutores protestam pelo Brasil contra CNH sem autoescola

STF debate transparência de emendas Pix nesta quinta-feira

Lula confirma candidatura à reeleição em 2026: 'energia de 30 anos'

Comissão de Ética da Câmara arquiva processo contra Eduardo Bolsonaro