Operação Carbono Oculto: Receita e PF investigam rede que usou fintechs e fundos para lavar bilhões no setor de combustíveis. (Divulgação/Receita Federal)
Repórter
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 07h54.
Última atualização em 28 de agosto de 2025 às 10h46.
A Receita Federal, em parceria com diversos órgãos nacionais, desencadeou nesta quinta-feira, 28, uma megaoperação chamada de Operação Carbono Oculto, considerada a maior ação já realizada contra a principal organização criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O alvo é uma rede que movimentou mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, infiltrada em toda a cadeia de combustíveis e no sistema financeiro nacional.
As investigações revelaram que o grupo criminoso controlava desde a importação até a venda ao consumidor final, usando centenas de empresas para sonegar tributos, adulterar combustíveis e lavar dinheiro. Segundo a Receita Federal, só em créditos tributários federais já foram constituídos mais de R$ 8,67 bilhões contra os envolvidos.
Um dos mecanismos identificados foi o desvio de metanol importado para adulterar gasolina, prática que prejudicava diretamente consumidores e ampliava os lucros ilícitos dos postos. Mais de 1.000 postos em 10 estados participaram do esquema, recebendo recursos em espécie ou via maquininhas para movimentar o dinheiro do crime.
Entre 2020 e 2024, esses postos registraram R$ 52 bilhões em transações, mas declararam tributos muito abaixo do esperado. Parte dos locais nem mesmo funcionavam, mas mesmo assim receberam R$ 2 bilhões em notas fiscais simuladas.
Esquema criminoso movimentou mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. (Divulgação/Receita Federal)
O núcleo financeiro do esquema era uma fintech de pagamentos, que operava como verdadeiro banco clandestino da organização criminosa. Entre 2020 e 2024, a empresa movimentou R$ 46 bilhões de forma não rastreável, explorando brechas regulatórias.
A instituição chegou a receber mais de 10,9 mil depósitos em espécie, somando R$ 61 milhões, o que, de acordo com a PF, é uma operação incompatível com sua natureza que deveria apenas registrar dinheiro escritural. Os recursos eram concentrados em “contas-bolsão”, dificultando a identificação dos clientes finais.
Segundo a Receita Federal, essa fragilidade no monitoramento foi ampliada após a revogação, em 2025, de normas que obrigavam fintechs a reportar movimentações financeiras pela e-Financeira.
O dinheiro ilícito era reinserido na economia por meio de pelo menos 40 fundos de investimento, que somam patrimônio de R$ 30 bilhões. A maior parte funcionava como fundos fechados com apenas um cotista - normalmente outro fundo - criando diversas camadas de ocultação.
Esses fundos, segundo a Receita Federal, controlavam um terminal portuário, seis usinas de álcool, 1.600 caminhões, mais de 100 imóveis e propriedades de luxo, como fazendas no interior de São Paulo e uma casa em Trancoso/BA avaliada em R$ 13 milhões.
A Receita aponta indícios de que as administradoras dos fundos tinham ciência do esquema e colaboraram para esconder os verdadeiros beneficiários, deixando de repassar informações obrigatórias ao Fisco.
Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em 350 alvos em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional também entrou com ações para bloquear mais de R$ 1 bilhão em bens, incluindo imóveis e veículos.
A operação contou com a participação de cerca de 350 servidores da Receita Federal, além de integrantes do Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda de São Paulo, ANP e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo.
Segundo a Receita, o nome “Carbono Oculto” faz referência tanto ao elemento químico presente em combustíveis quanto à ocultação de recursos ilícitos no sistema financeiro.