Agência de notícias
Publicado em 22 de outubro de 2025 às 07h37.
Depois de perder os três governadores que elegeu em 2022, vistos até então como esperança de “renovação” do partido, o PSDB vem apostando em resgatar antigos caciques para tentar montar chapas aos governos estaduais e ao Senado em 2026.
Além da filiação do ex-ministro Ciro Gomes, que pode concorrer ao governo do Ceará, lideranças tucanas vêm estimulando candidaturas dos ex-governadores Marconi Perillo (GO), Beto Richa (PR) e Aécio Neves (MG) nos respectivos estados. Há ainda conversas para filiar o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, para lançá-lo a senador no ano que vem.
Todos eles já disputaram cargos majoritários pelo partido e têm sessenta anos ou mais. O perfil contrasta com o trio de tucanos eleitos em 2022: Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE) estavam mais próximos dos quarenta anos, e Eduardo Riedel (MS) tinha 53. Além da menor faixa etária, os três governadores têm menos de duas décadas de carreira política, enquanto os caciques da velha guarda disputam eleições desde o início dos anos 1990.
Leite e Raquel migraram para o PSD neste ano, e Riedel optou pelo PP. Com isso, o PSDB ficou pela primeira vez sem nenhum governador desde 1990, ano em que Ciro se elegeu no Ceará.
O retorno de Ciro ao partido será oficializado nesta quarta-feira, em evento em um hotel de Fortaleza. Em entrevistas recentes, ele deixou em aberto a possibilidade de uma candidatura presidencial em 2026. Lideranças do partido, no entanto, pretendem convencê-lo a concorrer ao governo estadual. A ideia é lançá-lo para aglutinar a oposição ao atual governador Elmano de Freitas (PT), cuja gestão tem sido criticada por Ciro em áreas como segurança pública e educação.
Por ora, o único tucano que já confirmou uma candidatura a governador é o atual presidente do PSDB, Marconi Perillo. Em setembro, ele anunciou que disputará no ano que vem o governo de Goiás, cargo que ocupou pela primeira vez entre 1999 e 2006. À época, Marconi foi um dos governadores mais jovens do país, com 35 anos; o recordista no período pós-redemocratização é o próprio Ciro, que tinha 31 quando se elegeu no Ceará em 1990.
Marconi ainda retornou ao governo de Goiás entre 2011 e 2018, ano em que foi alvo da Operação Lava-Jato e não conseguiu se eleger ao Senado. A investigação foi arquivada no ano passado pela Justiça Eleitoral.
Outro tucano que ensaia uma retomada política é o hoje deputado federal Beto Richa, que foi governador do Paraná entre 2011 e 2018. Naquele ano, assim como Marconi, ele chegou a ser preso pela Lava-Jato e perdeu a disputa ao Senado. Os casos foram posteriormente anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Richa avalia se candidatar ao governo e pode enfrentar nas urnas o ex-juiz e senador Sergio Moro (União), antigo responsável pelos casos da operação no Paraná.
" Por parte da direção nacional do PSDB há um estímulo, sim, para que a gente encare uma eleição majoritária. Vontade eu tenho, mas eleição para governador depende de um leque de alianças político-partidárias que viabilizem uma candidatura", afirmou Richa.
Na passagem pelo governo, Richa teve no seu secretariado o atual governador Ratinho Jr. (PSD), que ainda não definiu qual candidato apoiará à sucessão estadual.
A direção tucana também cogita lançar o deputado Aécio Neves ao governo de Minas, mas um entrave é que ele assumirá a presidência nacional do PSDB em dezembro, para que Marconi se dedique à própria candidatura em Goiás. Aécio esteve à frente do estado entre 2003 e 2010 e recuperou prestígio no partido após arquivar, nos últimos anos, investigações da Lava-Jato das quais havia sido alvo.
Integrantes da cúpula do PSDB avaliam que o partido precisa ter candidaturas pontuais a governo e Senado, para não perder de vista a necessidade de ampliar a bancada de deputados federais. O objetivo é atingir a cláusula de barreira, que garante acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e TV. No ano que vem, a regra exigirá um piso de 13 deputados eleitos em no mínimo nove estados; em 2022, os tucanos elegeram 13 em sete.
O ex-prefeito de Santo André Paulo Serra, cotado para disputar o governo de São Paulo, diz que o PSDB "nasceu com o DNA de eleger nomes ao Executivo", mas pondera que a "sobrevivência do partido" está ligada a eleger nomes ao Legislativo.
" O que o partido tem avaliado muito é viabilidade eleitoral. Podemos ter candidatura majoritária onde percebermos que isso agrega à chapa de deputados e que possa dar vida ao partido. Em outros casos, podemos fazer composições", afirmou Serra.
Uma articulação na mira dos tucanos é com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que deve concorrer ao governo estadual em 2026. O deputado federal Luciano Vieira (Republicanos-RJ), que marcou sua filiação ao PSDB para esta sexta-feira, sugeriu filiar também o ex-prefeito e vereador Cesar Maia para lançá-lo ao Senado.
A sondagem do PSDB foi noticiada pelo portal Agenda do Poder e confirmada pelo GLOBO com interlocutores do ex-deputado Rodrigo Maia, filho de Cesar. A família Maia se filiou ao PSDB nas eleições de 2022, quando Cesar concorreu como vice na chapa de Marcelo Freixo (PSB) ao governo estadual. Depois, Cesar migrou para o PSD, de Paes, e se reelegeu vereador no ano passado. Rodrigo, por sua vez, se afastou da vida partidária após se tornar, no início de 2023, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, cargo que deixou na semana passada.
Procurado, Vieira afirmou, em nota, que as decisões de candidaturas do PSDB no Rio "serão tomadas de forma conjunta com a direção nacional do partido". Cesar não quis comentar, e Rodrigo Maia não foi localizado pela reportagem.