Agência de notícias
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 08h32.
A proposta orçamentária para 2026 enviada esta semana pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Assembleia Legislativa do estado, a Alesp, prevê ampliar, no ano eleitoral, investimentos em programas sociais, na articulação política e em privatizações ou concessões ao setor privado, enquanto faz cortes em habitação e meio ambiente. Pelo projeto, a Secretaria de Desenvolvimento Social, responsável pela primeira área, terá acréscimo de quase 50% nos recursos na comparação com 2025, chegando a R$ 1,9 bilhão.
Uma das vitrines de Tarcísio em São Paulo é o programa “Superação”, que atende famílias de baixa renda e promete reintegrá-las ao mercado de trabalho, funcionando como uma espécie de contraponto ao Bolsa Família, do governo federal. O orçamento ainda precisa ser aprovado pelos deputados estaduais, o que costuma ocorrer em dezembro. Até lá, eles podem fazer modificações por meio de emendas.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV, o aumento do investimento na área social mira 2026 e representa uma tentativa de aproximação com segmentos de menor renda, hoje mais próximos da gestão Lula:
"É uma estratégia eleitoral para atingir um grupo social com o qual o governo não vem dialogando diretamente e que tem sido mais sensível a pautas petistas. É uma tentativa que ajuda o Tarcísio candidato ao Planalto ou à reeleição."
Outra secretaria com previsão de crescimento de verbas é a de Parcerias em Investimentos, que arca com os custos das privatizações e concessões realizadas pela gestão, incluindo rodovias, trens, balsas e metrô. A alta soma 45%, para o valor sugerido de R$ 11,6 bilhões.
As parcerias em investimentos possibilitam a Tarcísio explorar uma imagem de gestor eficiente, que realiza obras em parceria com o setor privado e, segundo o governo, economizando dinheiro público. O governador tem participado de todos os leilões na B3, a bolsa de valores, e adotou a batida do martelo como marca.
Ao mesmo tempo, a proposta prevê R$ 83 bilhões em renúncias fiscais, incluindo benefícios concedidos em ICMS e IPVA. A gestão alega que as renúncias serão revistas e se devem a fatores externos. Os impostos que deixam de entrar no caixa superam os gastos de quase todas as secretarias e pressionam Tarcísio, que adota discurso de austeridade e prometeu rever a política na eleição.
Houve reforço de caixa ainda na articulação política, com a Secretaria de Governo e Relações Institucionais, chefiada por Gilberto Kassab, presidente do PSD, e a Casa Civil, sob responsabilidade de Arthur Lima, considerado seu braço direito na máquina estadual. Ambos podem deixar os postos, assim como Tarcísio, caso decidam disputar cargo público em outubro. A proposta destina R$ 1,8 bilhão para repasses e convênios com municípios através da pasta de Kassab, mas nos últimos dois anos consecutivos os deputados optaram por fatiar os recursos para inflar verbas de outras áreas.
Tarcísio sugere cortes significativos nas pastas de Desenvolvimento Urbano e Habitação — queda de 30,4% para R$ 2,1 bilhões — e de Meio Ambiente e Logística — recuo de 19,8% para R$ 8,7 bilhões. Outras secretarias menores também sofreram reduções, incluindo a Secretaria de Comunicação, com diminuição de 37,8% para R$ 212 milhões, após ter um dos maiores crescimentos percentuais na lei orçamentária de 2025.
Ao todo, o governo projeta R$ 382 bilhões em receitas para 2026, patamar 2,6% maior que o deste ano, mas abaixo da expectativa do mercado para a inflação do período, de 4,8%. O movimento é atribuído ao cenário econômico global de “incertezas” e a uma “grave situação fiscal do país”. O estado é o mais afetado pela elevação de tarifas imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a exportações brasileiras, tema que gerou desgaste político a Tarcísio diante do alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro.