Santa Catarina: estado teve um ganho populacional de 354.350 pessoas (Prefeitura de Florianópolis/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 28 de junho de 2025 às 09h01.
Destino histórico de nascidos em outros estados que viajavam em busca de oportunidades, Rio de Janeiro e São Paulo, este último pela primeira vez, apresentaram saldos migratórios negativos no Censo 2022, mostram dados divulgados na sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já Santa Catarina, em movimento inédito, liderou o ranking nacional com o maior ganho populacional via migração entre 2017 e 2022.
Ao todo, cerca de 29 milhões de brasileiros vivem atualmente em estados diferentes de suas origens — o equivalente a 13,8% da população.
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O estado catarinense apresentou o maior saldo migratório e a maior taxa líquida de migração do país em 2022, com um ganho populacional de 354.350 pessoas — o que corresponde a 4,66% da sua população total.
O fenômeno marca uma mudança significativa na dinâmica migratória brasileira.
O economista Vitor Tartari, de 40 anos, ilustra o fenômeno. Nascido em Bragança Paulista, viveu por duas décadas na capital do estado natal, mas há dois anos decidiu se mudar para Florianópolis em busca de mais qualidade de vida.
Embora reconheça que a capital catarinense compartilha alguns desafios semelhantes aos paulistanos — como o trânsito carregado e o alto custo dos imóveis —, ele considera que, em muitos aspectos, a nova casa oferece uma experiência melhor.
"Em termos relativos, é uma cidade pequena, mas ainda assim uma capital. Isso cria um equilíbrio interessante entre infraestrutura urbana e qualidade de vida", diz o economista, que completa: "A vinda para cá nos deu segurança para ampliar a família. Nosso filho nasceu aqui, ele é “manézinho” (nascido em Florianópolis), e isso torna a conexão com a cidade ainda mais especial".
Professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Rosana Baeninger, especializada em migração interna e internacional, aponta outras razões que tornam Santa Catarina atrativa para quem vem de fora:
"O estado tem forte arranjo produtivo do complexo grãos e carne, com presença de frigoríficos e atividades terciárias que derivam do setor. Esses fatores fazem com que ele se destaque na migração", diz.
São Paulo, que sempre se destacou como o principal polo de atração e redistribuição populacional do país, abrigava 8,6 milhões de pessoas nascidas em outras Unidades da Federação em 2022 — o maior número do Brasil. No entanto, entre 2017 e 2022, mais pessoas saíram do estado do que chegaram.
Nesse intervalo, 736 mil migrantes se mudaram para São Paulo, mas 826 mil paulistas fizeram o caminho inverso, resultando em um saldo migratório negativo de 90 mil pessoas, o primeiro da história desde a introdução da métrica de “data fixa” nos Censos, em 1991.
"O que atraiu em São Paulo foi que a economia crescia muito, a industrialização dava oportunidades. Com o tempo o custo de vida subiu, ficou mais difícil achar emprego e o estilo de vida passou a ser mais caótico e perigoso", explica José Eustáquio Alves, doutor em Demografia e pesquisador aposentado do IBGE.
O Rio de Janeiro apresentou reversão ainda mais intensa. No mesmo período, o estado teve a maior perda populacional do país em números absolutos, com saldo migratório negativo de 165.360 pessoas — ou pouco mais de 1,% da população residente em 1º de agosto de 2022.
Na Região Norte, Acre e Amapá também apresentaram saldos migratórios negativos, com taxas de –2,86% e –2,40%, respectivamente. Por outro lado, o Tocantins foi o único estado nortista a registrar saldo positivo, destoando da tendência regional.
O quesito denominado de data fixa, presente nos Censos desde 1991, indaga a pessoas de 5 anos ou mais sobre o local de residência — município, Unidade da Federação ou país estrangeiro — exatos cinco anos antes da data de referência do censo. Esse critério permite definir como migrante aquele que residia em localidades distintas nas duas datas, tornando a interpretação dos deslocamentos populacionais mais objetiva e padronizada.