(Exame Infra/YouTube/Reprodução)
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 11h40.
Após uma participação discreta nos primeiros leilões de rodovias de 2025, a Motiva, antiga CCR, prepara-se para disputar certames estratégicos no fim do ano e reforçar sua estratégia de crescimento baseada em "seletividade e rentabilidade", de acordo com o CEO, Miguel Setas, em entrevista ao EXAME INFRA. A companhia projeta investir até R$ 60 bilhões de Capex (investimentos em obras) até 2035, com a maior concentração dos aportes nos próximos cinco anos.
"Estamos numa fase de investimento, uma fase de crescimento. O que colocamos para o mercado é que isso nos permitirá aumentar o EBITDA [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] da companhia próximo de 10% ao ano até 2035", afirmou o executivo no programa realizado pela EXAME em parceria com a empresa Suporte.
Segundo Setas, cerca de dois terços dos investimentos previstos ocorrerão até o início da próxima década.
Em 2023, a empresa já havia registrado um recorde de investimentos, de R$ 7,4 bilhões, acima da média histórica, entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões anuais. Em 2024, o patamar deve se repetir, consolidando uma nova curva de crescimento.
O calendário de concessões públicas tem sido central para a estratégia da companhia. O Ministério dos Transportes marcou para as últimas semanas de outubro os leilões dos lotes 4 e 5 das Rodovias Integradas do Paraná.
Juntos, os projetos somam mais de mil quilômetros de estradas federais e estaduais e preveem cerca de R$ 19,7 bilhões em investimentos.
No ano passado, a então CCR já havia vencido o Lote 3 do mesmo programa, que reúne quase 570 quilômetros de rodovias federais e estaduais. A disputa foi acirrada e definida no viva-voz, quando a empresa ofereceu desconto de 26,6% sobre a tarifa de pedágio.
Segundo Setas, essa vitória cria uma lógica de sinergia regional e fortalece o interesse da Motiva nos novos certames do estado.
"Termos ganho um lote no Paraná viabiliza o interesse no estado do Paraná, acaba por ser um elemento facilitador de tomada de decisão, porque se porventura viermos a participar [dos leilões], a decisão ainda não está tomada, ela está dentro de uma lógica sinérgica regional", disse o CEO da Motiva.
"Existe uma busca por qualidade, ativos premium, regiões do país onde nós entendemos que o ambiente de negócios é adequado, sinergias e seletividade com rentabilidade", complementou.
Além dos certames federais, a Motiva acompanha de perto licitações do estado de São Paulo. Entre elas, a nova concessão dos lotes rodoviários Rota Mogiana e Circuito das Águas operados atualmente no interior de São Paulo pela Renovias, concessionária da Motiva.
O projeto, que inclui trechos já administrados pela companhia e novas vias do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER-SP), contempla mais de 916 quilômetros e mais de R$ 15,4 bilhões em investimentos em infraestrutura. Estão previstas duplicações, construção de passarelas e a introdução do pedágio eletrônico sem cancela (free flow).
A Motiva estuda simplificar o portfólio e avalia uma possível saída do setor de aeroportos, no qual tem 20 ativos, para priorizar os modais rodoviário e ferroviário.
"Neste momento, tanto trilhos como rodovias têm oportunidades muito construtivas. Em São Paulo, a agenda de concessões estaduais em trilhos é intensa, e no nível federal há um pipeline enorme de rodovias para licitação", afirmou.
Segundo ele, a presença nos dois segmentos permite diversificar riscos e ajustar a estratégia conforme o cenário.
"Temos investidores internacionais que nos dizem 'a história de vocês é muito complexa, são muitos ativos, 37 ativos, eles são difíceis de modelar'... Portanto, vamos no sentido de simplificar essa história, de pegar nesse investimento [em aeroportos], nesse capital que está hoje alocado nesse modal, e reinvestir nos outros dois modais. Essa é a estratégia", disse o CEO.
No segmento de trilhos, a empresa vê um campo fértil para expansão, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Setas lembra que, mesmo nas cidades mais avançadas, a densidade de transporte sobre trilhos no Brasil é menor do que a de capitais vizinhas. "São Paulo e Rio têm menos da metade da densidade de Santiago, no Chile. Em comparação com Nova Iorque, a diferença é ainda maior".
Segundo o executivo, o Brasil possui um mercado potencial de R$ 240 bilhões em mobilidade urbana sobre trilhos, dos quais R$ 75 bilhões estão no radar da Motiva.
"Nossa prioridade é estar em mercados onde já atuamos — São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia — e buscar sinergias. Além disso, temos mais interesse em projetos em que a dominância seja a operação, e não a construção pesada", disse.
Entre os leilões previstos no curto prazo em São Paulo estão o Trem Intercidades (TIC) até Sorocaba e a concessão da Linha 10-Turquesa, que prevê a construção da estação 14-Ônix.
A presença de players nacionais e internacionais nos certames é vista por Setas como um sinal positivo. "A concorrência eleva a barra da gestão, nos obriga a trazer mais eficiência, tecnologia e inovação. É um sinal de maturidade do setor e de estabilidade regulatória", afirmou.
Ainda assim, ele observa que o número de competidores em rodovias é limitado, o que reforça a vantagem da Motiva em ser seletiva. "Vamos poder escolher aquilo que nos interessa: ativos premium, em regiões com ambiente de negócios adequado e potencial de sinergia", reforçou.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
Ep. 9 - Concessionárias investirão R$ 40 bi de rodovias a hidrovias até 2029, diz CEO da MoveInfra
Ep. 10 - Fundos de investimentos se consolidaram no mercado de leilões, diz CEO de concessões de R$ 27 bi
Ep. 11 - 'Brasil tem pressa' e licenciamento ambiental deve ser votado antes do recesso, diz Arnaldo Jardim
Ep. 12 - Governo de São Paulo prepara leilão de R$ 20 bilhões para saneamento em cidades fora da Sabesp
Ep. 13 - Com R$ 30 bi em Capex até 2030, EcoRodovias prioriza seletividade, diz diretor-geral
EP. 14: Aegea avalia IPO em 2027 e prepara estrutura para novo ciclo de expansão e investimentos
EP. 15: Repactuação de rodovias atraem poucos players — mas Fernão Dias deve ter disputa, diz especialista
EP. 16: Com R$ 20 bi em PPPs e concessões, RS avança com leilões de rodovias, saúde e educação
EP. 17: Sanepar planeja disputar concessões fora do Paraná a partir de 2026, diz presidente