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Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06h52.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 voltou a atrair candidatos com mais de 18 anos que não terminaram a educação básica. Nesta edição, o Ministério da Educação (MEC) decidiu retomar a certificação do ensino médio pela prova e, com isso, esse grupo teve um crescimento de mais de 200%.
Dados do Painel Enem 2025, com informações oficiais da prova, mostram que mais de 81 mil inscritos neste ano não estão matriculados na escola nem contam com diploma de ensino médio. Em 2024, eram apenas 24 mil. Esse é o principal grupo interessado em conseguir um diploma de ensino médio pela prova do Enem. Para isso, é preciso tirar pelo menos 450 pontos em cada uma das quatro provas objetivas (Matemática, Linguagens, Ciências da Natureza e Ciências Humanas) e 500 na Redação.
— Além de conseguir o diploma de ensino médio, quero fazer Administração ou Psicologia. Estou estudando muito em um curso on-line — conta Jefferson Perez, de 24 anos.
O morador de Boa Vista (RR) diz que precisou parar de estudar com 15 anos para começar a trabalhar na Venezuela, onde nasceu. Aos 18, decidiu deixar o país, assim como cerca de meio milhão de pessoas, e migrou para o Brasil. Desde a adolescência, já passou por serviços como jovem aprendiz, garçom, atendente e assistente de farmacêutico. Mas é com a faculdade que ele sonha. Por isso, está empenhado em aprender o que será cobrado no exame do Brasil.
— O currículo é um pouco diferente do que na Venezuela, mas o importante é aprender — diz Perez, animado.
No total, 98 mil pessoas indicaram ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela prova do Enem, que estão se inscrevendo no exame para conseguir um diploma. Estudantes com mais de 18 anos que estão na escola até o 2º ano do ensino médio (como alunos da educação de jovens e adultos) também podem utilizar esse benefício, além daqueles que não estão matriculados em colégios.
Esse número de 98 mil é bem inferior ao que foi registrado na última vez que o Enem garantiu o diploma do ensino médio, em 2016. Naquele momento, um milhão de pessoas informaram ao Inep que tentariam a certificação de educação básica. A prova, no entanto, reunia um número muito maior de inscritos totais (8,6 milhões) e já estava consolidada: era o sétimo ano consecutivo que oferecia a possibilidade de dar o diploma para quem atingisse um patamar de desempenho mínimo, e cada ano que passava atraía mais interessados.
Na ocasião, contudo, Mendonça Filho, então ministro da Educação do governo Michel Temer, decidiu passar essa responsabilidade para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), que vai seguir existindo para garantir diploma de ensino fundamental e médio para quem conseguir a pontuação mínima.
— Aplicar o Enem como instrumento de certificação é desnecessário e acaba exigindo de um jovem ou de um adulto muito mais do que seria necessário. Não faz sentido aplicar uma avaliação tão abrangente para dois objetivos distintos. Do ponto de vista de conhecimento, isso impõe um ônus a mais para quem não pensa no ensino superior — afirmou ele, em janeiro de 2017, ao anunciar as mudanças.
Autor da dissertação “Exames para certificação de conclusão de escolaridade: os casos do Encceja e do Enem”, de 2014, Luís Felipe Soares Serrão afirma que a volta da certificação do ensino médio pelo Enem levanta novamente a discussão sobre a dificuldade de uma única prova servir a dois propósitos: selecionar os alunos para o ensino superior e medir se o estudante tem os conhecimentos necessários para conquistar o diploma de educação básica.
— Quando fiz a pesquisa, a prova estava ficando ano a ano mais difícil, porque precisava discriminar notas cada vez mais competitivas para os cursos de graduação. Com isso, cada vez menos pessoas que tentavam o diploma conseguiam atingir o patamar mínimo — explica o mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com o trabalho dele, 110 mil alunos conseguiram o diploma de ensino médio, em 2010, pelo Enem. Isso correspondia a 34% dos que tentaram. Em 2012, esse patamar caiu para 14%, o que representou 52 mil pessoas. Em 2016, segundo dados divulgados pelo Inep na época, 82 mil foram diplomados pela prova. No entanto, como o ano registrou recorde de inscritos, isso correspondia a apenas 7,7% dos que tentaram.
O Enem 2025 será realizado nos dias 9 e 16 de novembro. Neste ano, 4,8 milhões de pessoas se inscreveram, um crescimento de 11% em relação a 2024. O número de participantes que estão terminando o ensino médio em 2025 manteve a trajetória de aumento dos últimos anos e passou de 1,6 milhão de inscritos para 1,8 milhão.
Outro grupo que também teve crescimento de quase 200 mil alunos é o de treineiros — os que não podem ir para a graduação por ainda estarem na escola. Eles passaram de 840 mil para um milhão.