Ao longo de um ano e quatro meses, Mauro Cid prestou 12 depoimentos, elevando a gravidade dos fatos e mudando versões até implicar Braga Netto (Geraldo Magela/Agência Senado/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 25 de junho de 2025 às 12h42.
Última atualização em 25 de junho de 2025 às 13h41.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou a negar, em depoimento à Polícia Federal, que tenha utilizado um perfil no Instagram para falar sobre a sua delação premiada, o que violaria o sigilo do acordo.
O militar é delator na investigação que apurou uma trama golpista que visava manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após a derrota em 2022. O depoimento foi prestado na tarde de terça-feira, 25.
Em uma primeira oitiva, há duas semanas, o militar já havia negado que tenha conversado sobre a sua delação com o advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro.
Na última segunda-feira, a Meta, dona do Instagram, entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um ofício que mostra detalhes da conta do Instagram e os IPs dos aparelhos que a acessaram. Segundo este documento, o perfil foi registrado em 2005 com o e-mail "maurocid@gmail.com" e a data de aniversário do militar.
Durante o interrogatório de Cid no STF, em 9 de junho, o advogado Celso Vilardi, da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), perguntou ao militar se ele havia conversado sobre o conteúdo de sua delação com outras pessoas pelo Instagram. Ele negou.
Em seguida, Vilardi questionou se ele conhecia um perfil chamado "GabrielaR702". Cid respondeu que Gabriela é o nome de sua esposa, mas que não sabia se esse era o perfil dela.
Dias depois, a revista Veja publicou mensagens atribuídas a esse perfil, sobre delação de Cid. Ao STF, os advogados do tenente-coronel negaram que ele fosse o autor do diálogo e pediram a investigação da conta. Moraes atendeu ao pedido e determinou que a Meta enviasse os dados.
Na semana passada, no entanto, o advogado Eduardo Kuntz informou ao STF que foi ele que conversou com Cid por essa conta e apresentou mais mensagens.
Câmara é um dos réus do chamado "núcleo dois" da trama golpista, enquanto Cid e Bolsonaro fazem parte do considerado "núcleo crucial" da suposta organização criminosa que teria tentado um golpe de Estado no fim de 2022.
Na quarta-feira, Moraes mandou prender Câmara e determinou que ele e Kuntz sejam investigados por possível obstrução de Justiça.
"São gravíssimas as condutas noticiadas nos autos, indicando, neste momento, a possível tentativa de obstrução da investigação, por Marcelo Costa Câmara e por seu advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz, que transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado", afirmou Moraes.
Nos dados enviados pela Meta, há o registro de uma conversa entre Kuntz, o perfil "GabrielaR702" e Paulo Amador Cunha Bueno, um dos advogados da equipe do ex-presidente Jair Bolsonaro.