Agência de notícias
Publicado em 9 de junho de 2025 às 16h32.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, que recebeu uma quantia em dinheiro vivo das mãos do general Braga Netto no Palácio da Alvorada, no fim de 2022.
Segundo as investigações da Polícia Federal, a quantia seria usada para custear um plano para monitorar e capturar o ministro do STF Alexandre de Moraes, o o que faria parte de um suposto plano golpista.
No interrogatório, Cid afirmou que pegou a "caixa de vinho" onde estava o dinheiro e a entregou ao major Rafael Martins de Oliveira, que é acusado de tentar viabilizar o plano Punhal Verde e Amarelo.
— E aí o general Braga Netto trouxe uma quantia de dinheiro, não sei dizer o valor, que foi passado para o major de Oliveira no próprio Alvorada. Eu recebi o dinheiro do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Ele estava numa caixa de vinho, botelha, no mesmo dia eu passei para o major de Oliveira — disse o tenente-coronel.
Diálogos obtidos pela PF durante a investigação sobre a trama golpista mostram que o major de Oliveira discutiu com Mauro Cid o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes a Brasília.
Conforme as investigações, o montante teria sido levantado para a execução da trama golpista que visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia ganhado as eleições naquele ano contra o então presidente Jair Bolsonaro. O valor teria sido acertado em uma reunião na casa do general ocorrida no dia 12 de novembro, em Brasília.
No pedido de prisão feito ao STF, a PF afirmou que Braga Netto era o "principal elo de financiamento" do plano para capturar Moraes.
"A mudança substancial nos relatos do colaborar em relação a participação do general Braga Netto nos fatos investigados, notadamente a omissão quanto a atuação do indiciado como principal elo de financiamento do evento 'copa 2022', indica que ações de obstrução surtiram o efeito pretendido pela organização criminosa", diz trecho do documento.
O STF iniciou nesta segunda-feira a etapa de interrogatórios dos réus da trama golpista. Os depoimentos são conduzidos pelo relator da ação penal, ministro Alexandre de Moraes. O primeiro a falar é Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Além de Moraes, o ministro Luiz Fux, integrante da Primeira Turma, também está presente e fará perguntas.
Os interrogatórios ocorrem na sala da Primeira Turma do STF, e todos os réus participam presencialmente, com exceção do ex-ministro Walter Braga Netto, que está preso preventivamente, no Rio de Janeiro, e por isso acompanha por videoconferência.
Durante a sessão, Moraes ocupa a cadeira da presidência da Primeira Turma. Os réus estão lado a lado, acompanhados dos advogados. Quando um interrogado é chamado, o acusado senta em uma mesa localizada à frente dos demais.
Serão interrogados os oitos réus do primeiro núcleo da trama golpista. Além de Cid e Braga Netto, fazem parte do grupo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sério Nogueira (Defesa), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o tenente-coronel Mauro Cid .
Os depoimentos estão marcados para ocorrer durante todos os dias desta semana. Caso haja necessidade, podem continuar na próxima semana.
Cid é o primeiro a falar por ter feito um acordo de delação premiada. Como o conteúdo de sua fala pode ser utilizada na acusação contra os demais réus, a legislação determina que o delator seja ouvido primeiro, para que os outros saibam o conteúdo.
Depois, a ordem seguida é a alfabética: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.