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Campos, reduto de Garotinho e Bacellar, volta ao centro da política do Rio olhando para 2026

Com o presidente da Alerj avançado para concorrer ao governo, Eduardo Paes tem se aproximado do prefeito campista, filho do ex-governador

Anthony Garotinho: foi eleito governador, em 1998. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Anthony Garotinho: foi eleito governador, em 1998. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Agência o Globo
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Publicado em 1 de junho de 2025 às 08h55.

Quando Anthony Garotinho foi eleito governador, em 1998, o decreto que fundiu os antigos estados do Rio e da Guanabara tinha apenas 24 anos, mas o interior — pouco populoso, dado que a Região Metropolitana concentra 75% dos fluminenses — conseguiu alçar um dos seus ao Palácio Guanabara. Natural de Campos dos Goytacazes, Garotinho bradou, via jingle cantado por Neguinho da Beija-Flor, que “o melhor prefeito do Brasil” viraria governador. Exitoso, colocou o município no centro do mapa político do Rio, algo que agora volta à tona com a ascensão do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União), ao posto de candidato da direita na eleição do ano que vem.

Enquanto o campista desponta com o respaldo do governador Cláudio Castro e do ex-presidente Jair Bolsonaro, ambos do PL, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), busca na cidade do Norte Fluminense uma forma de neutralizar a força local do provável adversário. Para isso, recorre a um representante do clã Garotinho, outrora adversário ferrenho. Quem comanda Campos hoje é Wladimir, filho de Anthony, tido pelo entorno de Paes como o mais preparado e menos “folclórico” da família. Certo é que a “República do chuvisco”, apelido jocoso dado ao governo Garotinho em referência ao doce típico de Campos, está de novo no mapa político do Rio.

Detentor de aprovação superlativa na capital, onde foi reeleito com 60% dos votos no primeiro turno, o prefeito precisa expandir a força para o resto do estado a fim de manter o favoritismo na disputa do ano que vem. Enfrenta, nesse movimento, empecilhos partidários e de máquina pública: as siglas que sustentam o governo Castro dominam a maior parte das prefeituras relevantes do Rio e contam com secretarias de “porteira fechada” na administração estadual.

Nos últimos meses, Paes e interlocutores falaram mais de uma vez com Wladimir, um dos nomes ventilados para compor a chapa de 2026. É cedo para definir qualquer coisa, dizem, antes de avaliar que o prefeito campista teria mais a agregar do que a prejudicar, a despeito do desgaste do sobrenome.

Nas conversas, a pauta oficial é sempre a desejada interlocução entre a prefeitura de Campos e o governo federal, que pode ser facilitada por Paes. Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o carioca já defendeu publicamente medidas que beneficiariam a região.

Chama atenção, no entanto, que as partes nunca postam fotos dos encontros. É uma forma de Wladimir se blindar de eventuais represálias do governo do estado, que, segundo aliados, tem preterido o município, onde obras estariam paralisadas por falta de recursos.

Wladimir vai sair do PP, partido que passou a compor uma federação com o União Brasil de Bacellar. Na política de Campos, as duas famílias cultivam rivalidade histórica — o pai do presidente da Alerj, Marcos Bacellar, foi vereador e já presidiu a Câmara Municipal. O destino mais provável é o MDB, partido que, apesar de integrar a gestão Castro, emite sinais dúbios sobre a eleição do ano que vem. O Republicanos é outro destino possível.

— Wladimir tem histórico de oposição ao Bacellar. Fica muito claro que precisa se organizar cada vez mais para caminhar com o Eduardo — avalia o principal aliado de Paes na política campista, o deputado federal Caio Vianna (PSD).

Ex-secretário de Governo de Wladimir, Vianna afirma que, no jogo entre Bacellar candidato e Paes tentando atrair o prefeito da cidade, quem ganha é Campos.

— É óbvio que o Eduardo visa fortalecer a presença na cidade e na região como um todo — aponta. — Bacellar se fortaleceu. Não podemos ignorar que se articulou bem nos bastidores e será um candidato forte e competitivo. Isso também é positivo para a região.

É notório na política do Rio que a maior parte da energia de candidatos a governador tem que estar na Região Metropolitana. Campos, entretanto, é com folga a cidade mais populosa do interior — 483 mil pessoas — e funciona como um polo para o entorno.

— Campos tem 3% do peso eleitoral do estado. Ainda é pouco, mas é uma cidade que exporta informação, tem influência em toda a região — afirma a cientista política Mayra Goulart, professora da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Partidos e Política Comparada (Lappcom).

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