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Blindagem de closets e cômodos cresce com aumento do consumo de itens de luxo no país

Gavetas com travas eletrônicas e portas reforçadas são tendência; especialistas alertam para o risco de falsa sensação de segurança

Virgínia Fonseca: influenciadora adotou a técnica em sua casa (Instagram/Reprodução)

Virgínia Fonseca: influenciadora adotou a técnica em sua casa (Instagram/Reprodução)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 25 de maio de 2025 às 09h53.

Bolsas, relógios, joias e itens de vestuário que custam mais que carros: quanto mais artigos de luxo nos armários, de mais segurança se precisa. É essa necessidade que faz aumentar a procura por blindagem de vidros e portas de closets, que já conquistou nomes como as influenciadoras Virginia Fonseca, Maya Massafera e Flavia Pavenelli. Mas, segundo especialistas, a intervenção precisa ser feita com acompanhamento profissional para funcionar e não causar danos estruturais ao imóvel.

A quantidade de aparatos de segurança chamou a atenção nos vídeos do novo closet de Virginia, que viralizaram na internet nas últimas semanas. Em um deles, a influenciadora conta que instalou vidros blindados no espaço para armazenar suas bolsas e joias do valor de um carro importado. A nova rainha da bateria da Grande Rio optou ainda por gavetas com travas eletrônicas, que só abrem com cartões magnéticos, e um sistema de monitoramento de câmeras em todo o espaço.

As apresentadoras Ana Hickmann e Maya Massafera buscaram o mesmo tipo de proteção. Mas a primeira influenciadora a chamar a atenção pelo cuidado com seus objetos pessoais foi a atriz Flavia Pavanelli, que instalou janelas e uma porta blindada com controle por senha na entrada de seu quarto. Em uma entrevista ao podcast No Lucro, da CNN, no fim do ano passado, Pavanelli contou que já investiu aproximadamente R$ 5 milhões no espaço.

— Por isso que tudo é blindado — afirmou.

No vídeo em que mostrou o local pela primeira vez, publicado em seu canal no YouTube em setembro de 2020, Pavanellil destacou a funcionalidade da porta e explicou que, além do controle por chave, tem acesso ao equipamento por um aplicativo que a avisa toda vez que houver um acesso ao ambiente.

Portas à prova de balas

O arquiteto e urbanista Gustavo Pozzato conta que, no Brasil, são vendidas portas blindadas de diferentes níveis. As mais simples têm proteção antiarrombamento. Outras, mais poderosas, são à prova de balas.

— Basicamente, a pessoa está transformando o espaço em um cofre — explica Pozzato, ao comentar o efeito da instalação em locais específicos como os closets.

Este não foi o único objetivo do empresário Bruno Avelar, de 39 anos, quando instalou uma porta blindada na entrada de seu closet. Avelar diz que, mais do que um local seguro para seus artigos de vestuário, sua intenção era criar um bunker que poderia servir de abrigo para a família, caso haja uma invasão no imóvel.

— Queria um local para proteger minha família em um caso de extrema urgência. Depois da instalação, tenho mais tranquilidade quando estou em casa, sensação de proteção, paz. Nem instalei outros equipamentos de segurança porque sinto que com a porta blindada não preciso de mais nada — conta Avelar, que tem mais espaços blindados na casa, mas prefere não revelar quais.

De acordo com os dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 24.951 roubos a residências em 2023. Mas o especialista em segurança pessoal e segurança familiar Gustavo Caleffi pondera que blindar closets não é garantia de proteção em uma invasão domiciliar.

— Para usar o local como esconderijo, como um quarto do pânico, a pessoa precisa estar acordada no momento da violação e com a família no mesmo cômodo. Uma opção que pode ser mais eficaz é a blindagem das portas de entrada do imóvel. Mesmo assim, é importante que o projeto tenha o acompanhamento de um profissional da área da segurança, para definir a estratégia de acordo com a planta do imóvel— alerta Caleffi, dizendo que a instalação sem orientação pode trazer uma falsa sensação de segurança. — Quando a pessoa acha que está segura sem estar, é pior, porque é aí que ela baixa a guarda e fica mais vulnerável.

O 'cara dos bunkers'

Conhecido como “o cara dos bunkers” e dono da empresa Forttus, especializada em blindagem, Ricardo Moura calcula que já fez mais de 700 closets pelo país com a segurança reforçada. Os preços, diz, podem variar de R$ 20 mil a R$ 300 mil, dependendo do tamanho e do nível de blindagem. Ele atribui o aumento da procura pelo serviço a uma mudança nos padrões de consumo, em que as pessoas estão investindo em itens de vestuário cada vez mais caros.

— Hoje as pessoas têm muitos produtos de valor, como joias, relógios, bolsas, sapatos, cintos, perfumes. Juntando tudo, fica impossível guardar dentro de um cofre de modelo usado tradicionalmente — avalia Moura, que já fez projetos para uma adega de vinho subterrânea e despensas de cozinhas e foi o responsável pelo projeto de blindagem das portas do vestiário do Santos no estádio da Vila Belmiro, mudança capitaneada pelo pai do jogador Neymar, após o retorno do jogador ao clube, no começo do ano.

O influenciador Lucas Amadeu optou por instalar portas blindadas na entrada de seu apartamento. A decisão significou gastar R$ 50 mil para trocar as de madeira pelas com proteção balística.

— Tenho um cuidado além do necessário, mas prefiro me precaver. É triste ter que passar por isso, ter porta blindada em casa. Não é motivo de orgulho, até porque pagamos impostos para ter segurança pública. Mas infelizmente isso não acontece — lamenta.

Clínica reforçada

O reforço não é só nas paredes domésticas. O dentista Marcio Kubitski blindou uma das salas de sua clínica para guardar equipamentos de maior valor. Alguns custam mais de R$ 200 mil.

— Optamos pela sala-cofre porque infelizmente invasões e arrombamentos em estabelecimentos comerciais estão cada vez mais frequentes. Tive a clínica furtada duas vezes e aprendi — conta Kubtiski, que pretende agora investir em uma porta blindada para sua casa.

Mas para quem deseja reforçar a segurança de seu imóvel, o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis do Rio de Janeiro e Inspetor do Crea-RJ, Cláudio Dutra, alerta que a instalação de uma porta blindada não pode ser feita sem a supervisão de um engenheiro. Dutra lembra que normalmente elas pesam dez vezes mais que uma porta comum, muito além da sobrecarga calculada para o prédio no momento da construção:

— O profissional ficará responsável por calcular se a troca vai demandar um reforço da estrutura da construção. A instalação de forma independente pode parecer não trazer um problema na hora, mas causa fissuras e danos estruturais a longo prazo. Não adianta se proteger da violência mas estar em um ambiente inseguro na questão estrutural.

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