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'Só falta empurrão político para Trump reverter tarifaço ao café', diz representante brasileiro

Estados Unidos continuam sendo o maior comprador do produto brasileiro no acumulado do ano

Tarifas de Trump: além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do mercado de café nos EUA (Freepik/Freepik)

Tarifas de Trump: além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do mercado de café nos EUA (Freepik/Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 06h01.

Última atualização em 10 de outubro de 2025 às 08h57.

O setor de café brasileiro quer aproveitar a aproximação dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos para reverter o tarifaço de Donald Trump sobre o café. Segundo Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o governo americano deve retirar as sobretaxas ainda esse ano.

"Só falta um empurrão político para que o Trump reverta a tarifa sobre o café brasileiro. Claro que o cenário é imprevisível, mas estamos otimistas com prudência", diz Matos.

O executivo conta que encontrou Bill Murray, presidente da National Coffee Association (NCA), entidade que representa o setor de café nos EUA, em um evento na Suíça e conversaram pessoalmente sobre as taxas.

Segundo Matos, a NCA realizou uma reunião em Washington, no final de setembro, onde visitou a Casa Branca e secretarias, mesmo com o shutdown em vigor.

Em comunicado emitido nesta quinta-feira, 9, Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, solicitou uma reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, para reforçar a importância e a interdependência dos dois países no setor de café.

"Não podemos relativizar o mercado americano para nossos cafés, tampouco eles podem abrir mão do nosso produto", afirmou Ferreira.

Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do mercado de café nos EUA, de acordo com dados do Departamento de Estatística dos EUA, o que o posiciona como o principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era dessa categoria.

No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, o que corresponde, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.

Em meio ao tarifaço de Trump, as exportações de café do Brasil para os Estados Unidos caíram 53% em setembro de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 333 mil sacas.

Contudo, os Estados Unidos continuam sendo o maior comprador do café brasileiro no acumulado do ano (de janeiro a setembro). Segundo o Cecafé, o país importou 4,361 milhões de sacas, correspondendo a 15% dos embarques totais do Brasil nesse período.

O setor de café nos EUA

Desde o anúncio do tarifaço, o setor de café brasileiro tem buscado medidas para derrubar a nova tarifa. Em setembro, foram apresentados uma série de argumentos durante audiência da United States Trade Representative (USTR), escritório de Comércio dos EUA ligado à Casa Branca.

Entre outras frentes, a indústria estuda aumentar a presença do Cecafé em Washington, capital dos EUA. Segundo Matos, os cafeicultores brasileiros avaliam realizar um evento na cidade para apresentar a diversidade do café nacional.

Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, deve se reunir com Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, para discutir os impasses econômicos e comerciais entre os dois países.

Em comunicado divulgado pelo Itamaraty, o órgão informou que os diplomatas conversaram por telefone nesta quinta-feira, 9, para dar continuidade à conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, ocorrida no início da semana.

Vieira e Rubio concordaram em se encontrar em Washington para uma reunião, que ainda não tem data definida. Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também deverá se reunir com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, para tratar do tema.

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