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Sem tarifa, café do Vietnã pode invadir EUA e Brasil perder espaço

Trump disse nesta segunda que café do Vietnã será incluído entre os produtos isentos de tarifas no novo acordo comercial em negociação com o país asiático

Café: o Brasil é o maior produtor mundial de café, com 55,2 milhões de toneladas estimadas para a safra 2025/26 (Freepik/Freepik)

Café: o Brasil é o maior produtor mundial de café, com 55,2 milhões de toneladas estimadas para a safra 2025/26 (Freepik/Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 10h49.

O café do Vietnã pode invadir os Estados Unidos caso o presidente americano, Donald Trump, retire a tarifa de 20% sobre o produto do país asiático. Isso pode fazer com que o grão brasileiro perca espaço, já que o café vietnamita se tornaria mais atraente para os torradores americanos, que poderiam aumentar a participação desse grão nos blends — misturas de diferentes variedades de café.

O Brasil é o maior produtor mundial de café, com 55,2 milhões de toneladas estimadas para a safra 2025/26, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O país produz principalmente cafés conilon e arábica, sendo o arábica a principal espécie cultivada.

O Brasil detém 30% do market share de café nos Estados Unidos, de acordo com dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café importado pelos EUA era da variedade arábica.

O café conilon (ou robusta) é conhecido por seu sabor forte, amargo e encorpado, com alta concentração de cafeína e notas amadeiradas ou de nozes. Já o café arábica é mais suave, aromático e complexo, com acidez acentuada e notas que podem incluir frutas e flores, além de ter um teor de cafeína mais baixo.

"Se o Brasil mantiver tarifas de 50% enquanto os concorrentes tiverem tarifas muito mais baixas, o mercado norte-americano acabará absorvendo todo o café produzido pelos concorrentes, comprando apenas a quantidade complementar do Brasil", afirma Luiz Fernando Reis, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo.

Na segunda-feira, 27, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indicou que o café do Vietnã será incluído entre os produtos isentos de tarifas no novo acordo comercial em negociação com o país asiático.

"Queremos reduzir um pouco a tarifa sobre o café", disse o republicano aos repórteres a bordo do Air Force One, a caminho de Tóquio, acrescentando que poderia visitar o Vietnã, o segundo maior produtor mundial de café e o principal produtor da variedade robusta.

A Casa Branca anunciou no domingo, 26, que os Estados Unidos e o Vietnã finalizarão um acordo comercial nas próximas semanas, mantendo as tarifas de 20% sobre a maioria dos produtos vietnamitas, mas suspendendo as taxas sobre determinadas mercadorias. Contudo, não foram especificados os produtos envolvidos.

Para a Datagro, consultoria agrícola, a retirada das tarifas sobre o café do Vietnã pode ampliar a diferença de preço entre o grão brasileiro e o vietnamita.

"A diferença entre o robusta vietnamita e o conilon brasileiro tende a aumentar. Atualmente, o conilon já é considerado 'caro' devido à forte demanda do mercado interno, e a redução da tarifa vai acentuar ainda mais essa diferença", explica Orlando Editore, head de café da Datagro.

O executivo alerta, no entanto, que os estoques estão muito baixos e a oferta está restrita para todas as espécies. Essa questão de oferta está diretamente relacionada à colheita de café do Brasil em 2025.

"Nossa estimativa é que a safra de arábica seja de 36,5 milhões de sacas, um volume bem abaixo do nosso potencial. Quanto ao conilon, a safra está estimada em 26 milhões de sacas, um número excelente, mas a demanda interna vai absorver pelo menos 80% dessa oferta. No caso do Vietnã, após safras frustradas, é esperado que o país volte a produzir um bom volume, em torno de 30 milhões de sacas de robusta", diz.

Mesmo com a taxação, os Estados Unidos continuam sendo o maior comprador do café brasileiro no acumulado do ano (de janeiro a setembro). O país importou 4,361 milhões de sacas, correspondendo a 15% dos embarques totais do Brasil nesse período, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Negociação café Brasil e EUA

Mais otimista, Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, afirma que a possibilidade de Trump retirar a tarifa sobre o café do Vietnã é um bom sinal de que o mesmo pode ocorrer com o café brasileiro. "Esperamos a mesma postura para o café brasileiro", diz o executivo.

No final de semana, após encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Trump, entidades do setor do café do Brasil manifestaram a possibilidade de uma solução favorável para a questão das tarifas.

Desde o anúncio da sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros, o setor de café tem negociado com o governo de Donald Trump medidas para retirar o café da lista de produtos afetados. Nos EUA, a National Coffee Association (NCA), entidade que representa a indústria do café americana, tem sido um dos elos dessa negociação.

Iniciada em abril, a negociação entre a associação de classe e o governo americano busca incluir o café brasileiro na lista de produtos estratégicos, classificando-o como um produto natural não disponível nos Estados Unidos.

"O Cecafé aguarda por resultados concretos para a isenção das tarifas atualmente aplicadas ao setor do café, o que contribuirá para o recuo da atual pressão inflacionária ao produto no mercado dos EUA e para o fortalecimento da sustentabilidade de toda a cadeia produtiva brasileira", disse em nota a entidade.

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