PIB do agro: No caso do milho, a segunda safra do cereal, que deve atingir 109,6 milhões de toneladas, teve impacto significativo no resultado do agro no 2º trimestre (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 11h26.
A safra recorde de grãos do Brasil 2024/25, em especial a do milho de segunda safra, impactou positivamente a economia no segundo trimestre de 2025, segundos economistas ouvidos pela EXAME.
O Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário registrou uma variação negativa de 0,1% na comparação com o trimestre anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 2. Na relação com o mesmo trimestre de 2024, o crescimento foi de 10,1%. No total, a economia brasileira avançou 0,4%.
O resultado do 2º tri contrariou as expectativas de analistas, que estimavam um recuo do setor de até 1,9% em comparação com o primeiro trimestre. De janeiro a março de 2025, o agro avançou 12,2%.
André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica, atribui o desempenho do agro no período às condições climáticas favoráveis para as lavouras de soja e milho do Brasil.
"O setor agropecuário enfrentou grandes dificuldades com intempéries no ano passado. Este ano, o recuo de 0,1% reflete na maioria a supersafra, que por sua vez está relacionada a um clima mais ameno, sem os impactos de fenômenos como El Niño ou La Niña, que afetaram as safras no ano passado", afirma.
A projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma produção de 345,2 milhões de toneladas em 2024/25, impulsionada pela soja e pelo milho.
No caso do milho, a segunda safra do cereal, que deve atingir 109,6 milhões de toneladas, teve impacto significativo no resultado do agro no 2º trimestre, avalia Rafael Pacheco, economista da D.A Economics, braço econômico da consultoria Datagro. Segundo ele, o cereal foi relevante no crescimento da economia no período.
"Tivemos uma contribuição relevante nesse crescimento do PIB da safra do milho, arroz e soja, mas principalmente o milho. Então, tivemos um crescimento concentrado, com uma leve desaceleração no trimestre contra trimestre. Mas é praticamente estável. Seguimos com o PIB e agro bastante pujante, mas com uma leve tendência de estabilidade", diz.
Para a Conab, a produção de milho do Brasil deve ser de 137 milhões de toneladas.
Para Maurício Nakahodo, professor de economia da Faculdade Eseg, os próximos dois trimestres (terceiro e quarto) devem registrar uma queda no setor agropecuário. Esse recuo, segundo o especialista, é uma consequência do excelente desempenho do primeiro trimestre, que teve crescimento de 12,2% em relação ao quarto trimestre do ano anterior.
Ele observa que, sazonalmente, as safras de grãos no Brasil são mais concentradas no primeiro e no segundo trimestres, o que naturalmente leva a um enfraquecimento da atividade no terceiro e quarto trimestres.
"Há uma tendência de recuo adicional, um pouco mais acentuado do que o leve declínio observado no segundo trimestre", afirma.
Embora as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possam prejudicar parcialmente as exportações, ele acredita que o Brasil tem conseguido redirecionar algumas vendas para outros mercados. No entanto, commodities como café, carne e açúcar podem enfrentar dificuldades adicionais em função desse redirecionamento.
Apesar desses desafios, Nakahodo estima que, ao final de 2025, o setor agropecuário deverá crescer cerca de 8% em relação ao ano anterior, impulsionado principalmente pelo desempenho do primeiro trimestre.
"O bom desempenho do primeiro trimestre acaba impactando positivamente o crescimento anual, inclusive do PIB geral, devido ao efeito estatístico. O setor agropecuário deve liderar, em termos de taxa de crescimento, em relação aos outros setores da economia", diz.