Carne brasileira: produto paga tarifa de 76,4% ao entrar nos EUA (Churrasqueadas/Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 18h51.
Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 20h22.
A National Cattlemen's Beef Association (“Associação Nacional dos Pecuaristas”), dos Estados Unidos, pede que o governo americano tome medidas mais duras contra a exportação de carne brasileira ao país.
Hoje, o Brasil paga 76,4% de tarifa ao vender carne para os Estados Unidos. A taxa anterior era de 26,4%, que se sobrepõe à nova cobrança de 50%, que entrou em vigor em agosto.
"A moeda brasileira mais fraca e o menor custo de produção permitirão que o Brasil absorva a tarifa e continue a exportar carne bovina para o mercado americano de forma relativamente inabalável", diz Kent Bacus, diretor da Associação Nacional de Pecuaristas de Carne Bovina (NCBA), em uma carta ao Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, ligado à Casa Branca).
Nesta quarta-feira, 3, a USTR fará uma audiência sobre supostas práticas desleais do Brasil no comércio, e a NCBA se inscreveu para falar. No pedido, a entidade antecipou que pedirá a suspensão das compras de carne brasileira.
"A NCBA aprecia muito o aumento da tarifa sobre as importações do Brasil. Acreditamos que este seja um bom primeiro passo, mas a taxa faz pouco para conter as importações de carne bovina do Brasil, ao mesmo tempo que desestimula as importações de outros parceiros comerciais como Japão, Irlanda e Reino Unido", afirma Bacus.
"As tarifas por si sós podem não ser suficientes para responsabilizar o Brasil. Acreditamos que a suspensão total [das compras] é necessária e que novas restrições devem ser aplicadas até que as alegações de equivalência do Brasil em segurança alimentar e saúde animal sejam confirmadas", diz Bacus.
O diretor da NCBA ainda acusa o Brasil de não seguir padrões sanitários e de dificultar o acesso da carne americana ao mercado brasileiro.
"Não estamos preocupados com a possibilidade de as importações brasileiras substituírem a carne bovina americana no mercado americano, mas com o fato de que a falta de responsabilidade em relação à segurança alimentar e à saúde animal na produção de gado no Brasil possa minar a confiança do consumidor na carne bovina consumida nos Estados Unidos", diz Bacus.
Apesar das queixas da NCBA, a nova taxa dificultará a exportação de carne brasileira aos EUA. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) espera uma queda forte nas vendas. Roberto Perosa, presidente da Abiec, disse em entrevista à EXAME que a nova taxa torna a exportação "inviável" e que o Brasil deverá perder US$ 1 bilhão em vendas.
No processo aberto pela USTR, outra entidade, a Meat Import Council of America (Mica), que reúne importadores de carne para os Estados Unidos, defende os produtos brasileiros.
Em carta enviada em agosto, o diretor Michael Skahillv defende Os Estados Unidos dependem da importação de carne brasileira para conseguir produzir carne moída e hambúrgueres e que, sem poder importar o produto, os consumidores e produtores americanos terão prejuízos.
"Apesar de ser um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo, os Estados Unidos enfrentam uma deficiência estrutural em um produto essencial: aparas bovinas magras (lean beef trim), um ingrediente essencial na produção de carne moída", diz a carta.
O documento aponta que este tipo de aparas não é produzido em quantidades suficientes pelos EUA. Uma das razões é que o rebanho americano é otimizado para a produção de cortes de alta qualidade, como bifes marmoreados (intercalados por camadas finas de gordura).
"Aparas bovinas magras importadas são usadas por processadores americanos para misturar com aparas nacionais com alto teor de gordura, criando os produtos de carne moída amplamente consumidos por famílias americanas e prestadores de serviços de alimentação", diz Sullivan.
Esta mistura, segundo ele, ajuda a indústria americana a atender a demanda do país, de cerca de 50 bilhões de hambúrgueres consumidos por ano.