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Fusões e aquisições no agro crescem 40% em 2025 em meio ao cenário volátil

De janeiro a setembro deste ano, foram realizadas 49 M&As no país — o mesmo número total registrado ao longo de 2024

Silo da Kepler Weber: empresa avalia fusão e aquisição com americana GSI (Kepler Weber/Divulgação)

Silo da Kepler Weber: empresa avalia fusão e aquisição com americana GSI (Kepler Weber/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 6 de novembro de 2025 às 15h39.

O anúncio da empresa de silos e armazenagem Kepler Weber, de que avalia uma eventual fusão com a americana GSI, chamou a atenção do mercado nos últimos dias. A possível transação, no entanto, faz parte de um movimento mais amplo de crescimento nas fusões e aquisições (M&A) no agronegócio brasileiro, como mostra um levantamento exclusivo da empresa de auditoria PwC Brasil.

O estudo aponta que, de janeiro a setembro de 2025, foram realizadas 49 fusões e aquisições no país — o mesmo número total registrado ao longo de 2024 e um avanço de 40% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor estimado dessas transações é superior a US$ 2,5 bilhões (R$ 13,4 bilhões na cotação atual), embora nem todas as operações divulguem seus valores.

Para Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC Brasil e responsável pela área de finanças corporativas, o aumento desse tipo de operação no setor evidencia o grau de incertezas econômicas e políticas no qual o agro está inserido.

“É um movimento estratégico de sobrevivência. Em um cenário de margens apertadas, busca por melhor rentabilidade e geração de caixa operacional, esse movimento contribui para a otimização de custos”, afirma.

A Kepler Weber encerrou o terceiro trimestre de 2025 com lucro líquido de R$ 51,6 milhões, uma queda de 13,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A margem líquida caiu 1,4 ponto percentual, para 12,2%, refletindo um cenário mais desafiador para o setor e uma base comparativa elevada em 2024.

No acumulado dos nove primeiros meses do ano, o lucro líquido totalizou R$ 91,5 milhões, queda de 38,5% em relação ao mesmo intervalo de 2024. A receita líquida consolidada foi de R$ 1,09 bilhão, recuo de 4,8% na mesma base de comparação.

Desde 2008, quando a PwC iniciou esse monitoramento, os anos marcados por crises econômicas ou sanitárias — como a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2022 — registraram os maiores picos de atividade. Neste ano, em especial, a guerra tarifária em curso, liderada pelos Estados Unidos, reforçou o ambiente de volatilidade, segundo Dell’Oso.

Entre os setores que mais realizaram operações de M&A, a agropecuária — que inclui o cultivo de alimentos e a criação de animais — apresentou crescimento expressivo: o número de transações saltou de três, em 2024, para 12, em 2025.

O setor de frigoríficos e abatedouros também cresceu, com as operações passando de três para seis no mesmo período. Já o setor de avicultura manteve estabilidade, com sete transações tanto em 2024 quanto em 2025.

“Os sócios e donos de empresas estão evitando investir mais capital e buscando diversificação para reduzir riscos. Com o mercado de IPO pouco atrativo, a alternativa para essas empresas se tornarem financeiramente mais viáveis é vender ou se fundir”, afirma Dell’Oso.

Nas projeções do executivo, o número de fusões e aquisições deve crescer 40% ao longo de 2025 em relação a 2024, alcançando 62 transações — patamar semelhante ao de 2021, quando o mundo ainda enfrentava os efeitos da pandemia.

Segundo o Citi, atualmente, a Kepler Weber está avaliada em cerca de US$ 303 milhões (R$ 1,6 bilhão na cotação atual).

Kepler Weber e GSI

Na avaliação do Citi, divulgada nesta quarta-feira, 5, as negociações entre a Kepler Weber e a americana GSI — controlada pelo fundo American Industrial Partners (AIP) — podem resultar na criação de uma multinacional inédita no setor de armazenagem de grãos no Brasil.

“A nova empresa em potencial teria a oportunidade de participar de praticamente todos os negócios de silos de grãos no Brasil, otimizando custos e logística”, afirmam os analistas André Mazini, Kiepher Kennedy e Piero Trotta, em relatório.

Segundo o banco, a união entre Kepler Weber e GSI formaria um grupo com presença quase onipresente no setor, capaz de atuar em grande parte das negociações envolvendo silos agrícolas no país. A expectativa é que a operação também amplie o market share da GSI no Brasil e na América Latina.

A GPT, controladora da GSI, atua no Brasil por meio de diferentes marcas e ocupa atualmente a terceira posição no mercado nacional, com cerca de 16% de participação, considerando a receita no segmento de armazenagem de grãos. Já a Kepler Weber, líder do setor, detém aproximadamente 35% de participação.

“O anúncio reforça o interesse da GSI em se tornar líder de mercado no Brasil por meio de um processo acelerado”, diz o relatório.

O Citi avalia que, caso a transação se concretize, a GSI deve lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) pelas ações da Kepler Weber, consolidando sua posição como líder no mercado brasileiro de armazenagem de grãos — considerado um dos mais atrativos do agronegócio global na última década.

Na visão do banco, “manter a Kepler como empresa de capital aberto seria pouco realista, já que a GSI é controlada por uma gestora de private equity (AIP) e não possui suas principais operações listadas em bolsa nos Estados Unidos”.

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