Agência
Publicado em 16 de junho de 2025 às 16h07.
Mais de 800 peixes ornamentais originários da África chegaram, em março, ao Aeroporto Internacional de Huanghua, em Changsha, na China. Foi a primeira vez que esse tipo de carga foi importado pelo terminal localizado na província de Hunan.
A alfândega orientou o importador na construção de instalações de quarentena e elaborou um plano de entrada específico. O desembaraço ocorreu por meio do sistema de liberação alfandegária 24 horas, o que permitiu conexão direta entre descarregamento, inspeção e retirada.
A operação reflete o avanço das relações econômicas e comerciais entre China e África. Em 2024, o volume de comércio entre as duas partes atingiu US$295,6 bilhões, novo recorde pelo quarto ano seguido. A China mantém-se como o maior parceiro comercial do continente há 16 anos. Essa parceria se fortalece com políticas de tarifa zero e o modelo de integração entre produção, indústria e comércio.
Desde 2021, a entrada da pimenta seca de Ruanda no mercado chinês transformou o produto em um dos principais itens de exportação do país africano. A empresa ruandesa Fischer Global exporta anualmente entre 200 e 300 toneladas da especiaria para a China, com meta de atingir 1.500 toneladas. Segundo o diretor-geral, Herman Uwizeyimana, a política de tarifa zero reduz custos e aumenta a competitividade dos produtos africanos no mercado chinês.
A partir de 1º de dezembro de 2023, a China passou a aplicar tarifa zero a 100% das categorias tarifárias de produtos oriundos de 33 países africanos menos desenvolvidos com relações diplomáticas com Pequim. Trata-se da primeira grande economia a adotar essa medida.
Além disso, Pequim propôs acordos de parceria econômica com 53 países africanos para ampliar a aplicação da tarifa zero e facilitar exportações. Também promove a presença de expositores africanos em feiras como a China International Import Expo (CIIE) e a Exposição de Cadeia de Suprimentos.
Produtos como abacates do Quênia, abacaxis do Benim, carne de cordeiro de Madagascar, amendoins do Malaui, castanhas de Moçambique e sabonetes pretos de Gana têm ganhado espaço no varejo chinês. Segundo o Ministério do Comércio da China, desde a adoção da política até março de 2025, as importações provenientes dos países africanos menos desenvolvidos somaram US$21,42 bilhões, alta de 15,2% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre de 2025, o país também registrou aumento de 70,4% na importação de café africano e de 56,8% em cacau em grão.
O embaixador da Etiópia na China, Tefera Derbew Yimam, afirmou que a medida facilita o acesso dos produtos africanos ao mercado chinês e contribui para o avanço industrial no continente.
Na Costa do Marfim, triciclos transportam látex até uma fábrica operada por trabalhadores locais. Lá, a matéria-prima é transformada em blocos padronizados de borracha. A planta, com capacidade anual de 100 mil toneladas, foi inaugurada em outubro de 2024 pelo grupo chinês Mainland Group. É a terceira fábrica do grupo no país, a primeira foi aberta em 2020, em Dabou; a segunda, em 2022, em Duékoué. Outras duas unidades devem entrar em operação nos próximos meses, elevando a capacidade anual para 480 mil toneladas.
Apesar de liderar a produção africana de borracha natural, a Costa do Marfim exportava o produto in natura por falta de capacidade local de processamento. Com o apoio chinês, o país avança na industrialização e na geração de renda para os produtores.
De acordo com dados do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), empresas chinesas investiram RMB 13,38 bilhões no continente africano desde a cúpula de 2024. Pequim também destinou RMB 2,08 bilhões em empréstimos a pequenas e médias empresas locais, beneficiando cerca de 350 negócios em 19 setores e criando aproximadamente 4.500 empregos.
O Livro Azul da Cooperação Econômica e Comercial China-África (2025) aponta uma mudança nos padrões comerciais entre os dois lados. O setor agrícola e alimentício migra da exportação de matérias-primas para produtos processados. A indústria manufatureira passa a priorizar a produção local. Novos setores, como economia digital e serviços tecnológicos, ganham força. O comércio eletrônico transfronteiriço também complementa as trocas tradicionais.
O modelo de integração entre produção, indústria e comércio vem sendo adotado por diversos países africanos. Segundo Humphrey Moshi, diretor do Centro de Estudos Chineses da Universidade de Dar es Salaam, a África caminha para a geração de valor agregado, substituindo a exportação de matérias-primas por bens processados.
O ministro da Agricultura do Senegal, Mabouba Diagne, também apontou a instalação de fábricas locais como fator de transformação do modelo agrícola do continente.
Durante a 4ª Exposição Econômica e Comercial China-África, autoridades divulgaram novos projetos nos setores de agricultura moderna, manufatura avançada e energias renováveis. Segundo Xu Xiangping, presidente da Associação de Promoção da Cooperação Econômica e Comercial China-África de Hunan, esses projetos fortalecem a construção de uma comunidade China-África com desenvolvimento compartilhado.