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Agro dos EUA reclama de tarifaço de Trump — enquanto Brasil deve bater recorde na exportação de soja

China deve se manter como principal destino da commodity brasileira; país asiático ainda não reservou compras da soja dos EUA para o ciclo 2025/26

Plantação de soja: No Arkansas, um dos principais estados exportadores de soja dos EUA, produtores relataram estar em uma situação crítica. Em um vídeo publicado na rede social Reddit, eles afirmam que a "economia agrícola está em dificuldades" (Freepik)

Plantação de soja: No Arkansas, um dos principais estados exportadores de soja dos EUA, produtores relataram estar em uma situação crítica. Em um vídeo publicado na rede social Reddit, eles afirmam que a "economia agrícola está em dificuldades" (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 15h12.

Última atualização em 10 de setembro de 2025 às 15h16.

O agronegócio dos Estados Unidos tem registrado perdas bilionárias em função da interrupção das exportações de soja para a China, em razão da guerra tarifária em curso, liderada pelo presidente Donald Trump. Segundo a Reuters, traders e analistas afirmam que, com as negociações comerciais paralisadas entre os EUA e o país asiático, Brasil e Argentina têm preenchido essa lacuna.

Os importadores chineses já reservaram cerca de 7,4 milhões de toneladas de soja, principalmente da América do Sul, para embarques em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada para o mês, além de 1 milhão de toneladas para novembro, ou cerca de 15% das importações esperadas.

No mesmo período do ano passado, compradores chineses haviam reservado entre 12 a 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarques entre setembro e novembro. Geralmente, a China reserva essas compras com antecedência para garantir preços mais competitivos.

No Arkansas, um dos principais estados exportadores de soja dos EUA, produtores relataram estar em uma situação crítica. Em um vídeo publicado na rede social Reddit, eles afirmam que a "economia agrícola está em dificuldades".

"Setembro está chegando. A colheita está começando no sul profundo, e não temos nenhum bushel de soja registrado para vender à China nesta safra que está prestes a sair do campo", disse um agricultor americano.

Outro produtor dos EUA mencionou que enviou uma carta ao presidente Trump pedindo proteção para o setor agrícola diante da escalada tarifária.

"Façam da soja uma prioridade em quaisquer negociações comerciais que estejam ocorrendo. A soja é a principal exportação agrícola para a China. Na última guerra comercial, ela representou 71% das perdas que tivemos como agricultores americanos."

Brasil e Estados Unidos são os principais fornecedores de soja para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas de soja, sendo 71% provenientes do Brasil e 21% dos EUA,  segundo dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Brasil deve bater um recorde de exportação de soja em 2025, com previsão de enviar 112 milhões de toneladas até janeiro de 2026, com a China, principal compradora, sendo o destino majoritário, diz a Datagro, consultoria agrícola.

De fevereiro a agosto de 2025, o Brasil já embarcou 86 milhões de toneladas, ou 76% da meta projetada para o ano agrícola, que se encerra em janeiro de 2026.

Em agosto, as importações de soja pela China atingiram um recorde de 12,3 milhões de toneladas. Estima-se que até 75% desse total tenha origem brasileira, segundo a consultoria.

O relatório semanal de compras divulgado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) na última segunda-feira, 8, mostra que a China ainda não fez nenhuma reserva de compra de soja americana referente à safra 2025/26 nas últimas semanas.

Historicamente, os EUA exportam a maior parte de sua soja para a China entre setembro e janeiro, antes da chegada da colheita brasileira. No entanto, até o momento, compradores chineses não reservaram soja dos EUA para o novo ano-safra, segundo a Datagro.

A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) avalia que a China ainda não retomou as compras de soja americana em razaõ das tarifas, concentrando suas aquisições no Brasil e na Argentina.

"Com a ausência da oferta dos EUA, é provável que os estoques chineses, embora elevados neste momento, sofram redução até o fim do ano, criando um cenário que deve perdurar até a entrada da próxima safra, em fevereiro de 2025", disse a Anec em seu relatório mensal.

No ano comercial encerrado em agosto de 2025, os EUA venderam cerca de 22,9 milhões de toneladas de soja para a China, seu maior comprador. No ano anterior, o país asiático comprou US$ 12,8 bilhões em soja americana.

Essa situação representa um novo capítulo na disputa comercial que começou em 2018, quando os conflitos entre a administração Trump e a China resultaram na imposição de uma tarifa de 25% sobre os produtos agrícolas dos EUA. Isso provocou uma queda de 74% nas compras chinesas de soja americana em relação a 2017.

A fatia de mercado perdida pelos EUA foi, em grande parte, ocupada pelos fornecedores brasileiros, que enviaram 66 milhões de toneladas de soja para a China naquele ano, representando 75% das importações chinesas. Atualmente, a China continua sendo o maior destino das exportações brasileiras.

Na sexta-feira, 12, o USDA divulgará seu relatório mensal de oferta e demanda de grãos e a expectativa dos traders é de que haja um recuo nas projeções das exportações dos EUA em relação à temporada 2024/25.

Em agosto, o USDA estimou as exportações de soja dos EUA em 46,4 milhões de toneladas para 2025/26, já abaixo dos 51,02 milhões de toneladas do ano passado.

Trump e China

Enquanto segue em período de "trégua tarifária" com a China, Trump pediu que o país asiático quadruplique as compras de soja americana no ciclo 2025/26.

Segundo cálculos da Datagro, para quadruplicar as vendas aos chineses, os americanos precisariam enviar 88 milhões de toneladas de soja para a China, o que afetaria toda a exportação para outros países e reduziria a quantidade disponível para esmagamento.

Em 2024, a produção total de soja dos Estados Unidos foi de aproximadamente 118 milhões de toneladas. Desse total, 70 milhões de toneladas foram direcionadas para a indústria de esmagamento, para a produção de óleo e farelo, conforme dados da Datagro.

Outras 44 milhões de toneladas foram exportadas, sendo que 22 milhões de toneladas de soja foram destinadas à China, representando cerca de 52% do total exportado pelos americanos.

No final de agosto, o governo chinês publicou um discurso de seu embaixador em Washington, Xie Feng, no qual ele defendeu a retomada da cooperação entre os países no comércio de soja.

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